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The Secret History é o primeiro livro que Donna Tartt publicou, em 1992, e um livro que já estava na minha lista há algum tempo.
A história é narrada na primeira pessoa por Richard olhando para trás no tempo (ao estilo de Jane Eyre), e centra-se num grupo de seis pessoas que o nosso narrador conhece quando muda de universidade. Este é um grupo muito particular, elitista, de alunos que estudam os clássicos, as línguas clássicas, grego, etc, um grupo tão restrito que todos os que lá estiverem têm aulas sempre com o mesmo professor, sem mais alunos, sempre o mesmo grupo, o mesmo ambiente, tudo assim.
Logo no início sabemos que a história se vai centrar nos eventos que levaram à morte de Bunny, um desses colegas, e daquilo que resultou daí, e sabemos também que de alguma maneira ou outra Richard está implicado nessa morte.
Das coisas que mais gostei no livro foi o facto de nos dar a sensação de que conhecemos as personagens quando na realidade não conhecemos. Ao longo do livro é-nos dada sempre a sensação de que realmente conhecemos as pessoas sobre as quais estamos a ler, mas depois uma fala, uma descoberta sobre eles, uma ação muda completamente essa perspetiva inicial. E isto acontece ao longo de toda a obra, até ao final em que não conseguimos ter a certeza de quem são estas pessoas. E o mesmo acontece com as relações entre os elementos deste grupo. Parece que Richard é de facto a personagem com quem o leitor mais se identifica pela simples razão de que ele também vai descobrindo quem estas outras personagens são à medida que o tempo avança, e apesar de no momento em que escreve conhecer mais, a autora consegue fazer com que nós o acompanhemos nesta viagem.
O livro também tem aspetos muito engraçados. Estamos perante um grupo de alunos que são supostamente os mais intelectuais da universidade toda mas que, por exemplo descobrimos que Henry nem sabia da ida à lua. Ou mesmo Bunny a fartar-se da banalidade da namorada, das suas preocupações banais e normais, e não saber o porquê de ela ter essas preocupações.
Para além disto, as descrições do ambiente são incríveis. Acho que refletia mesmo bem um ambiente académico mais gótico, os quartos deles, as mudanças no ambiente e na natureza em si, a sala de aula onde eles tinham todas as aulas, o professor e o que eles davam. Acho que ao começar a ler temos a sensação de que o livro vai ser grande parte mais virado para o enredo, para o que aconteceu, o que levou estes estudantes a matar um colega. Uma das coisas que me suspreendeu foi que, de facto, é dada importância ao enredo, mas não só. As descrições fazem-nos ficar muito mais envolvidos na história, dão-nos espaço para absorver o ambiente onde todas estas coisas estão a acontecer, e espaço para pensar sobre aquilo que pode estar por baixo da história, nas entrelinhas.
São tantas as formas que Donna Tartt utiliza para criticar este elitismo académico, desde o homicídio, à importância da riqueza, rituais, uso de drogas e álcool, à ignorância de certos eventos e sensações. E é interessante como vemos a história ser contada por Richard, exatamente quem não tinha nada material, que queria estudar Grego por gostar e ver como desafio entrar para aquele grupo restrito e consegui-lo.
Acho que é um daqueles livros que adorava ler mais do que uma vez para conseguir anotar e agarrar melhor a história e todas as suas nuances.
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ENGLISH
The Secret History is Donna Tartt's first book, published in 1992, and it has been on my list for some time now.
The story is narrated in the first person by Richard looking back in time (Jane Eyre style) and is centred on a group of six people whom our narrator meets when he moves to university. This is a very particular group, elitist, of students studying the classics, classic languages, greek, etc, a group so restricted that everyone there always has classes with the same professor, without other students, the same group, the same environment, everything like that.
Right from the beginning we know that the story is going to be around the events that lead to the death of Bunny, one of those classmates, and what came from that, and we also know that one way or another Richard is involved in that death.
One of the things that I liked the most about this book was the fact that it gave me the feeling of knowing the characters when in reality we do not know them. Throughout the book, we are always given the feeling that we really know the people whom we are reading about, but then one line, one discovery about them, and one action changes completely the initial perspective. And this happens throughout the whole book, and at the end, we still are not sure of who these people are. And the same happens with the relationships between the elements of the group. It feels like Richard is the character with whom the reader most identifies for the simple reason that he is also getting to discover who these other characters are as time goes by, and even though he knows more at the moment he is writing the book, the author is able to make us follow this journey.
The book has some very funny aspects too. We are watching a group of students that are supposedly the most intelligent ones in the entire university but, for example, we discover that Henry did not even know of humans going to the moon. Or even Bunny getting sick of his girlfriend's banality, of her basic and normal worries, and not knowing why she has them.
Besides this, the descriptions of the environment are amazing. I think it reflected really well a more gothic academic environment, their rooms, the changes in the environment and nature itself, the classroom where all of them had classes, the teacher and what they talked about. I think that when we start reading we have this feeling that the book is going to be much more plot-oriented, oriented to what happened and what made these students kill a classmate. And one of the things that surprised me was that in fact there is great importance given to the plot, but not only to it. The descriptions make us be much more involved in the story, and give us space to absorb the environment in which everything is happening, and space to think about what may be under the story, between the lines.
There are so many ways that Donna Tartt uses to criticize academic elitism, from the murder to the meaning of wealth, rituals, use of drugs and alcohol, and ignorance of certain events and feelings. It is interesting how we see the story from Richard's perspective, exactly the one who did not have supplies, who wanted to study Greek because he likes it and sees it as a challenge to enter that restricted group and be able to do it.
I think that this is one of those books that I would love to read more than once to be able to annotate and get a better grip on the story and all its nuances.
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