ON EARTH WE'RE BRIEFLY GORGEOUS | OCEAN VUONG

 (Scroll down for the English Version)

O que eu sabia antes de começar a ler este livro: Ocean Vuong é poeta, e o livro é constituído por uma série de cartas escritas por um filho a uma mãe que não sabe ler.

A história é, sim, um conjunto de cartas de um filho para uma mãe que não sabe ler. E esta é uma premissa interessante, que nos coloca logo a pensar sobre qual vai ser, ao longo do livro, a abordagem deste rapaz e o que é que ele vai contar à mãe, o que ele queria contar, as coisas que ele gostaria de poder dizer-lhe mas não consegue. É interessante como enquanto estamos a ler o livro temos sempre na cabeça a ideia de que a mãe não sabe ler, e perguntamo-nos se afinal o que Little Dog quer é realmente dizer tudo isto à mãe ou se quer apenas dizê-lo a toda a gente menos à mãe. 


"Dear Ma, I am writing to reach you - even if each word I put down is one word further from where you are." (p. 3) 

São coisas duras de ler, reais, focam o passado da família, a sua origem, como chegaram à América, como passaram pela Guerra do Vietname e as consequências de a terem experienciado. Mas fala também sobre como é viver na América sendo diferente, como é ser homossexual na sua experiência pessoal, como foram as suas relações, como encara a morte e como a morte sempre foi um dos pontos mais presentes na sua vida. Como é passar pelo abuso que ele passou. Como é sentir-se deslocado. Como é ter de sobreviver. 
"I guess what I mean is that sometimes I don't know what or who we are. Days I feel like a human being, while other days I feel more like a sound. I touch the world not as myself but as an echo of who I was." (p. 62)
O livro é, do início ao fim, escrito quase como um fluxo de consciência (stream of consciousness). A narrativa é muito lírica, o que eu adoro e que é uma característica que Vuong traz da poesia para a prosa. Desde o primeiro ao último parágrafo que sentimos o peso daquilo que Vuong e, na história, Little Dog, escreve, a tristeza, a necessidade de comunicar aquilo que está a escrever, e tudo isto na prosa mais bonita que alguma vez li. Todas as frases, todas as palavras me partiam o coração, sempre a tocar em assuntos de grande importância até hoje em dia de uma forma que se sente muito pessoal. Quase sentimos que de certa forma estamos a invadir a privacidade de alguém ao ler esta história. 
"I am writing you from inside a body that used to be yours. Which is to say, I am writing as a son." (p. 10)
Outro ponto que adorei neste livro é como o narrador, sendo adulto, consegue transmitir e descrever aquilo que sentiu em criança. O ponto de vista inocente mas não tão ignorante como podem pensar. Conseguir olhar para o que acontece e descrever as partes do ponto de vista da sua infância desta forma tendo já outra visão das coisas. Lembrar-se da particularidade de como se sentiu em todas as ocasiões qeu conta nas cartas. 

Eu adorei este livro, e recomendo imenso. A escrita é linda, a história tocante.


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ENGLISH

What I knew before starting this book: Ocean Vuong is a poet, and the book is a series of letters written by a son to a mother who doesn't know how to read.

The story is, yes, a set of letters from a son to a mother who doesn't know how to read. And this is an interesting premise, that puts us thinking right away about what is it going to be, throughout the book, this boy's approach and what is he going to tell his mother, what he wants to tell her, the things he would like to be able to tell her but can't. It is interesting how while we're reading the book we are thinking about how his mother cannot read, and we ask ourselves if Little Dog really wants to tell all this to his mother or if he just wants to tell it to everyone but his mother. 


"Dear Ma, I am writing to reach you - even if each word I put down is one word further from where you are." (p. 3) 

These things are hard to read, real, they focus on the family's past, in their origins, how they got to America, how they got through the Vietnam War and the consequences of experiencing it. But it also talks about how it is to live in America being different, how it is being homosexual from his own experience, how were his relationships, how he faces death and how death was always one of the most present things in his life. How it is to undergo the abuse that he underwent. How it is to feel displaced. How it is to have to survive. 

"I guess what I mean is that sometimes I don't know what or who we are. Days I feel like a human being, while other days I feel more like a sound. I touch the world not as myself but as an echo of who I was." (p. 62)

The book is, from the beginning until the end, written almost as a stream of consciousness. The narrative is very lyrical, which I love and which is a characteristic brought from poetry to prose by Vuong. From the first to the last paragraph we feel the weight of what Vuong and, in the story, Little Dog, write about, the sadness, the necessity to communicate what he is writing about, and all this in the most beautiful prose I've read. Every sentence and every word broke my heart, always touching subjects of great importance even today in a way that feels very personal. We almost fell in a way that we were breaking into the privacy of someone while reading this story. 

"I am writing you from inside a body that used to be yours. Which is to say, I am writing as a son." (p. 10)

Another thing I liked about this book is how the narrator, being an adult, is able to transmit and describe what he felt as a child. The innocent point of view but not so oblivious as you might think. Being able to look at what happens and describe the parts from the point of view of his childhood in this way he has another vision of things. Remembering the particularity of how he felt on every occasion he talks about in those letters. 

I loved this book, and really recommend it. The writing is beautiful, the story touching.











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