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Este livro foi um bom acaso deste ano. Ao ir um dia à Feira do Livro de Lisboa, decidi que iria comprar um livro de um autor português sobre o qual nunca tinha ouvido falar ou lido. A Boneca de Kokoschka era o livro do dia da Companhia das Letras. Comprei. Li. E adorei.
Ao ler este livro acompanhamos várias histórias ao mesmo tempo através de personagens intrigantes e com caminhos de vida únicos, que acabam por se cruzar todas umas com as outras. O livro está organizado em pequenos capítulos, que acabam por descrever eventos quotidianos da vida dessas personagens.
Este livro foi uma leitura mesmo leve. Sinto que a simplicidade com que as histórias nos são contadas abre espaço para uma reflexão mais profunda ao acabar de o ler. Nunca durante a leitura confundi duas personagens nem me esqueci da história de cada uma (mas, para dizer a verdade, também li o livro em dois dias ahaha).
Há muitas coisas interessantes aqui. O livro dentro do próprio livro, que conta uma história ficcional que pega nas pessoas da vida desse escritor e lhes dá uma outra "realidade". Mas depois, no fim, Dresner ficcionalizar a realidade para a neta de Popa. A Vida imita a Arte, Oscar Wilde dizia. E também no livro temos esta frase, e esta a tornar-se realidade. Um livro escrito antes da neta nascer dá o nome de Adele à neta, que é o nome dela fora do livro. E, no final, o forçar o destino de Adele se apaixonar por um músico, como Popa relatou, muito antes, no livro. E o que é que isto nos diz a nós, leitores, que somos basicamente colocados num outro nível de realidade?
Toda a história da boneca do pintor pode ser vista ao longo do livro. O que é que as pessoas, ou neste caso personagens, realmente são. Se há apenas uma perspetiva, uma realidade, ou várias como Tsilia pinta.
É também uma história que reverte muitos dos papéis da sociedade que conhecemos. Um jovem que é mais pai para o pai adotivo do que este para ele. A relação da avó com o seu sobrinho, e qual o nome, então, da posição familiar do pai de Adele, que nasceu dessa relação, e de Adele.
Como diz na contracapa: "Mostra assim como acontecimentos fortuitos, inusitados ou insignificantes são tão cruciais para tecer os nossos destinos quanto aqueles que, pela impotência, julgamos serem os únicos fundamentais."
Eu gostei muito deste livro. Acho que é uma daquelas histórias de conforto, que ficam connosco.
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ENGLISH
This book was a very good fortune this year. Going to the Lisbon Book Fair one day, I decided that I would buy a book written by a Portuguese author about whom I had never heard anything or read anything about. A Boneca de Kokoschka [Kokoschka's Doll] was the book of the day by the publisher Companhia das Letras. I bought it. I read it. And loved it.
Reading this book we follow several storylines at the same time through intriguing characters with unique life paths, who end up crossing paths with each other. The book is divided into small chapters, that end up describing the day-to-day life events of those same characters.
This book really was a light read. I feel like the simplicity with which the stories are told opens space for a deeper reflection when finishing reading the book. Never during the reading I confused two characters nor forgot the story of each of them (but, to be honest, I also read the book in two days ahaha).
There are a lot of interesting things here. The book inside the book itself, tells a fictional story that takes the people in this writer's life and gives them a new "reality". But, then, in the end, Dresner also fictionalizes the reality of Popa's granddaughter. Life imitates Art, Oscar Wilde said. And we have this quote in the book, and this becomes reality. A book written before the granddaughter was born gives the name Adele to her, which is her name outside the book. And, in the end, forces Adele's destiny of falling in love with a musician, as Popa recounted a long time before, in the book. And what does that tell us as readers, that we are basically placed in another level of reality?
The whole story of the painter's doll can be seen throughout the book. What people, or in this case the characters, really are. If there is only one perspective, one reality, or several as Tsilia paints it.
It is also a story in which a lot of society's roles as we know them are subverted. A young man is more like a father to his adoptive father than the latter is to him. The relationship between a grandmother and his nephew, and the familiar position's name for Adele's father, who was born from that relationship, and Adele's.
As it's written on the back cover: "The book shows how fortuitous, unusual or insignificant events are just as crucial to weaving our destinies as those we deem to be the only fundamental by impotence."
I really liked this book. I think that it is one of those comfort stories that stick with us.
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