(Scroll down for the English version)
Como estudante de literatura e tradução, quando ouvi falar sobre este livro tive logo de o comprar.
Babel segue a história de Robin, natural de Canton na China, que aos dez anos é levado de onde nasceu para Inglaterra por um professor, Professor Lovell, que o salva de morrer com febre de tifóide. Robin tinha já algum conhecimento da língua inglesa e Lovell prometia-lhe uma vida de estudante inglês. Assim, Robin foi para Inglaterra, onde estudou Grego, Latim, Clássicos e continuou a estudar Mandarim e Cantonês, para depois aos 18 anos entrar no Instituto de Tradução de Oxford, que tem o nome de Babel.
Este é um livro que liga tradução a pontos cruciais do colonialismo inglês. Passa-se no início do século XIX.
Faz-nos levantar várias questões. Sim, Lovell levou Robin para um lugar melhor tendo em conta as condições em que vivia, e deu-lhe oportunidades de estudar. Mas apercebemo-nos logo desde o início que Robin não é o único aluno do Instituto que foi "moldado" para estudar ali desde criança. Nem o único que foi retirado da sua terra-natal por professores ricos para irem estudar para lá.
O que acontece é que toda a Inglaterra funciona com base naquilo que chamam a indústria da prata. E esta prata vem de Babel, e só é ativada por tradutores de Babel, que não só conheçam as línguas de pares-combinados mas que vivam essas línguas, que as conheçam profundamente. Estes pares capturam através da prata significados perdidos na tradução de palavras e conferem propriedades àquilo que tenha essas pratas. Por exemplo, para navios navegarem mais rapidamente há um par-combinação específico nas pratas desses navios.
Vemos que os aristocratas ingleses trazem crianças estrangeiras porque têm falta de pessoas que saibam certas línguas a um nível que consigam trabalhar estas pratas, usando-os para aumentar o próprio império camuflando as intenções com a frase "nós estamos a dar-vos oportunidades".
Uma das coisas que mais me tocou foi o facto de nunca sabermos qual é o nome verdadeiro de Robin. Quando professor Lovell lhe diz que o vai trazer para Inglaterra, diz-lhe também que ele tem de mudar de nome porque lá ninguém vai conseguir dizer o seu nome cantonês, e porque ele precisa de começar a viver uma vida de inglês. Robin Swift é só o nome que ele escolhe, mas nunca sabemos o seu nome verdadeiro.
É um livro fantástico, nota-se que teve uma grande base de pesquisa histórica e linguística. Faz-nos torcer pelas personagens e ficar contra elas. Faz-nos, no fim, pensar sobre como toda a gente tem a sua história e os seus motivos, mas mesmo assim há coisas que nunca deviam ter acontecido nem acontecer.
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ENGLISH
As a student of literature and translation, when I heard about this book I had to immediately buy it.
Babel follows the story of Robin, born in Canton, China, who at the age of ten is taken from where he was born to England by a professor, Professor Lovell, who saves him from dying of typhoid fever. Robin already had some knowledge of the English language and Lovell promised him the life of an English student. So, Robin went to England, where he studied Greek, Latin, and Classics and continued studying Mandarin and Cantonese so that when he reached 18 he could get into the Oxford Institute of Translation called Babel.
This is a book that connects translation with crucial points of British Colonialism. It is set in the beginning of the 19th century.
It makes us raise several questions. Yes, Lovell took Robin to a better place when we take into account the conditions in which he was living and gave him opportunities to study. However, we become aware from the beginning that Robin is not the only Institute student that was "moulded" to study there since childhood. Nor the only one taken from their homeland by rich professors to go study there.
What happens is that all of England has what they call the silver industry, which is the base for the country to function. And this silver comes from Babel, and it can only be activated by Babel translators, who not only know the languages of the match-pairs but live in those languages, that know them profoundly. These pairs capture through the silver the lost meanings in the translation of certain words and grant properties to whatever has the silver. For example, for the ships to sail quicker there is a specific match-pair in the silver of those ships.
We watch as the English aristocrats bring foreign children because they are lacking people who know certain languages at a level that they can work the silver, using them to increase their own empire behind the intentions of the sentence "we are giving you opportunities".
One of the things that touched me the most was the fact that we never get to know Robin's real name. When Professor Lovell tells him that he is going to England, he is also asked to change his name because no one there can pronounce his Cantonese name, and because he needs to start living life as an English man. Robin Swift is the name he chooses, but we never get to know his real name.
It is an amazing book, you can really tell that it has a big historic and linguistic base of research. It makes us support the characters and be against them. It makes us, in the end, think about how everyone has their stories and their motives, but that even so there are things that should have never happened or happen now.
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