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Este filme foi um dos melhores que vi este ano. É a história de Pinóquio, mas um lado diferente daquele que muitos de nós conhecem e que cresceram a ver. E está nomeado na categoria de Melhor Filme (longa-metragem) de Animação!
O filme começa por nos mostrar a história de Geppetto, e de como ele perdeu o seu filho de 10 anos, como tudo isto afetou a sua vida e como é que ele chegou ao ponto de construir um boneco com a esperança de um bêbedo de que o seu filho pudesse voltar para ele. Vemos como é que este boneco ganha vida, e todo o filme é narrado pelo grilo, chamado aqui de Sebastian.
É introduzida nesta versão do Pinóquio um outro mundo, outros seres, que trazem consigo mais evidentemente questões do que é a vida e a morte, de como isso afeta as pessoas, e como as crianças o veem. Das coisas que mais gostei neste filme são exatamente os espíritos, que explicam como as coisas acontecem, e as conversas de Pinóquio com a Morte.
As personagens são desenhadas e construídas de uma forma que quase parece que todas são feitas de madeira, e não apenas Pinóquio, e conseguimos ver como todas foram construídas à mão e como parece realmente que ganharam vida neste filme. Mais, o monstro, os espíritos, o grilo, todos eles são desenhados com a cor azul, quase para interligar esta temática da vida e da morte, da consciência de ser humano, do que pode ser o possível, porque são eles que nos trazem estas perguntas. Estas personagens são o toque pessoal de Guillermo del Toro.
Todo o contexto da época em que a história foi colocada (tempo de guerra, Itália, fascismo, Mussolini, etc) faz parecer que na realidade a única personagem que não é uma marioneta é o Pinóquio. Todos os outros estão sempre a responder e a fazer o que alguém pede, estão sempre a viver para outros e eles sim é que têm de aprender a não ser marionetas. Para além disto, ao contrário do que possamos pensar, não é Pinóquio que aprende a ser humano, mas sim Geppetto. Aprende a ser um pai e a recuperar a humanidade que perdeu com a morte de Carlo.
O filme é feito em Stop-motion, um estilo de animação em que há os bonecos/marionetas que são animados tirando fotos sucessivas de movimentos muito pequenos. Numa entrevista que vi, Guillermo del Toro referia até que, para o filme ficar com o movimento e a leveza com que ficou, eram tiradas 24 fotografias para fazer 1 minuto de filme, e no estúdio havia 60 câmaras a filmar 60 cenários diferentes, com cenas diferentes, para poderem avançar a um ritmo bom.
Algo que achei interessante enquanto via algumas entrevistas é que há sempre alguém que faz referência a semelhanças entre Pinóquio e Frankenstein, o que foi algo que enquanto eu estava a ver o filme pensei, principalmente na parte em que Geppetto está a construir Pinóquio. Há muito que parece interligar este livro, Frankenstein, com esta história. A viagem que o "outsider" tem de fazer e aquilo com que tem de lidar porque é diferente, o facto de os outros parecerem mais monstro do que os que são fisicamente diferentes, haver um criador, e esse criador ser o que mais tem de aprender.
[E quando, na Igreja, Pinóquio pergunta porque é que todos na Igreja o odeiam por ele ser feito de madeira, quando adoram o Cristo de madeira...]
O final não é o final que conhecemos, Pinóquio não se transforma num menino de carne e osso. É quase como se fosse ele que transformasse as pessoas à sua volta. E nós aprendemos com ele, principalmente com a forma com que ele é apresentado ao mundo e como o conhece ao longo do tempo que o acompanhamos, como o vê.
[E a pinha no início, no fim, no desenho da cauda da Morte!!]
Eu adorei este filme. É um dos meus nomeados favoritos aos Oscars deste ano.
TRAILER:
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ENGLISH
This was one of the best movies I've seen this year. It is the story of Pinocchio, but with a different perspective from the one many of us know and grew up watching. And it is nominated for Best Animated Feature Film!
The movie starts by showing us the story of Geppetto, how he lost his 10-year-old son, how all that affected his life and how he reached the point of building a puppet with the drunk hope of bringing his son back to him. We see how this puppet gains life, and the movie is narrated by the cricket, here named Sebastian.
It is introduced in this new version of Pinocchio another world, other beings, who bring with them more evidently questions about life and death, how it affects people, and how children see it. One of the things I liked the most about this movie was the spirits, who explain how things happen, and the conversations between Pinocchio and Death.
The characters are designed and built in a way that seems that almost all of them are made of wood, not just Pinocchio, and we are able to see that all of them were handmade and how it really seems like they gained life with this film. More, the monster, the spirits, the cricket, all of them are designed with the colour blue, almost as if to connect them with this theme of life and death, of the conscience of being human, of what could be possible, because they are the characters who draw these questions to us. These characters are the personal touch of Guillermo del Toro.
All the context in which the story is placed (war, Italy, fascism, Mussolini, etc) makes it seem that in fact, the only character who isn't a puppet is Pinocchio. All of the others are always answering and doing what someone else asks, are always living for others and they are the ones who have to learn how not to be a puppet. Besides, contrary to what we could think, it is not Pinocchio the one who learns how to be human, it is Geppetto. He learns how to be a father and how to recover the humanity he lost with Carlo's death.
The movie is made in Stop-motion, an animation style in which the puppets are animated by taking successive photos of very tiny movements. In an interview I saw, Guillermo del Toro said that for the movie to end up with the movement and lightness that it ended up they took 24 photographs to make a 1-minute of film and that in the studio there were 60 cameras filming 60 different scenarios, with different scenes, so that they could progress in a good rhythm.
One thing that I found very interesting while watching interviews was that there is always someone mentioning similarities between Pinocchio and Frankenstein, which was something that while I was watching I mainly connected to the part where Geppetto is building Pinocchio. There is a lot that seems to connect this book, Frankenstein, with this story. The journey that the outsider has to make and what he has to endure because he is different, the fact that the others seem more the monster than the ones who are physically different, the existence of a creator, and that creator being the one who has the most to learn.
[And when, in church, Pinocchio asks why everyone there hates him for being made of wood when they love the wooden Christ...]
The ending is not the ending we know. Pinocchio does not transform into a flesh-and-bone boy. It is almost as if he was the one transforming the people around him. And we learn with him, mainly with his way of being presented to the world and how he gets to know it throughout the time we follow him, and how he sees it.
[And the pine in the beginning, in the end, in the design of Death's tail!!]
I loved this movie. It is one of my favourite nominees for this year's Oscars.
TRAILER:
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