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Normal People é o segundo livro que li de Sally Rooney. Já tinha ouvido opiniões bastante diferentes sobre este livro, mas não tinha a menor ideia da história quando o comecei a ler.
A história centra-se em Marianne e Connel, e na sua relação, desde que se conheceram no secundário em 2011, até 2015, onde estão na mesma faculdade.
Neste livro nós acompanhamos pedaços da história de Connel e Marianne, e através de situações específicas somos levados a preencher contextos, a pensar sobre razões de certas ações, a ver e tentar entender algum dos seus passados. A Marianne e o Connel que conhecemos no início do livro não são os mesmos daqueles com que ficamos no final. Mas ao mesmo tempo são.
Os capítulos do livro fazem grandes saltos no tempo. Num capítulo estamos em Janeiro, à volta de um acontecimento particular que desperta reflexão e pensamento restrospetivo sobre outros acontecimentos anteriores, e depois no capítulo seguinte podemos estar já 3 meses depois, até mesmo 6 meses depois. Há estes saltos grandes no tempo mas ao acabar de ler o livro não senti que a história ficasse fraturada ou com buracos. Muito pelo contrário, as situações descritas são tão espefícicas para desenvolver profundidade nas personagens, as mudanças subtis de pontos de vista mesmo dentro de capítulos, os acontecimentos em si tão únicos e ao mesmo tempo banais que as personagens parecem pessoas reais e acabamos o livro a sentir que as conhecemos.
Não há aqui uma personagem com tudo descoberto e construído de forma definitiva, mas sim personagens com quem nos identificamos em algumas situações, que dizemos "que raio?" noutras, que vemos cometer erros, evoluir, e mesmo assim não serem perfeitas, não terem uma relação perfeita um com o outro nem com outros, personagens que vemos serem quase pessoas, pessoas normais.
Ao longo de todo o livro há a questão da falta de comunicação. Nós leitores que estamos de fora conseguimos ver que é um dos grandes senão o maior problema da relação de Connel e Marianne, o "eu sei que é isto que ele quer", "eu sei que é isto que ela está a pensar", que depois não corresponde à realidade.
Quando acabei de ler só me queria que houvesse mais páginas, mais janelas para a vida destas duas personagens, porque apesar da dor que se foi intensificando ao longo do livro sinto que adoraria continuar a acompanhar o que eles vão fazer a seguir. Mas lá está, há uma decisão a tomar, e eu podia ficar a ler a história deles até sempre, mas até este ponto eles estiveram juntos, a partilhar praticamente os mesmos ambientes, na escola e na faculdade. Agora Connel tem de tomar uma decisão para ele, que provavelmente os vai afastar.
Há alguns trigger warnings neste livro, que recomendo pesquisar antes de ler.
"Marianne had the sense that her real life was happening somewhere very far away, happening without her, and she didn't know if she would ever find out where it was and become a part of it." [PT: "Marianne tinha a sensação de que a sua vida real estava a acontecer num lugar longínquo, a acontecer sem ela, e não sabia se alguma vez viria a descobrir onde está essa vida e tornar-se uma parte dela."]
"It suggests to Connel that the same imagination he uses as a reader is necessary to understand real people also, and to be intimate with them." [PT: "Isto sugere a Connel que a mesma imaginação que ele usa como leitor é também necessária para entender pessoas reais, e ser íntimo com elas."]
"Outside her breath rises in a fine mist and the snow keeps falling, like a ceaseless repetition of the same infinnitesimally small mistake." [PT: "Lá fora a sua respiração eleva-se numa névoa fina e a neve continua a cair, como uma repetição incessante do mesmo infinitesimamente pequeno erro."]
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ENGLISH
Normal People is second book I've read by Sally Rooney. I had already heard a lot of different opinions about this book, but I didn't have any idea about its story when I started reading it.
The story is centred in Marianne and Connel, and in their relationship, since they've met in high school in 2011, until 2015, when they are in the same university.
In this book we follow pieces of Connel and Marianne's story, and it is through specific situations that we are asked to fill contexts, to think about reasons for certain actions, to watch and try to understand some of their pasts. The Marianne and the Connel we meet in the beginnig of the book are not the same we are left with in the end. But at the same time are.
The chapters in this book make big jumps in time. In a chapter we can be in January, with our attention in a particular event which prompts reflection and retrospective thinking about other previous events, and then the following chapter would be set 3 months later, or even 6 months later. There are these big jumps in time but when I finished the book I did not feel like the story was fractured or with holes. Quite the contrary, the situations described were so specific to develop character depth, the subtil changes in point of view even in the middle of chapters, the events are so unique on itself and at the same time so ordinary that the characters feel like real people and we finish the book feeling like we know them.
There is not one character here who has everything figured out and built in a definite way. Instead we have characters with whom we connect and identify in some situations, to whom we say "what the hell?" in other situations, who we watch make mistakes, evolve, and still not be perfect, not have a perfect relationship with one another and others, characters we watch be almost people, normal people.
There is throughout the book the question of miscommunication. We readers who are on the outside can see that it is one of the biggest if not the biggest problem in Connel and Marianne's relationship, the "I know this is what he wants", "I know this is what she is thinking", that does not match the reality.
When I finished reading I just wanted that there were more pages, more windows to the lives of these two characters, because despite the pain that was growing throughout the book I feel like I would love to continue to follow what they are going to do next. But then again, there is a decision to be made, and I could read their story forever, but they were together until this point, sharing practically the same environments, in scholl and university. Now Connel has to make a decision for him, which will probably drive them apart.
There are some trigger warnings in this book, which I recommend research before reading it.
"Marianne had the sense that her real life was happening somewhere very far away, happening without her, and she didn't know if she would ever find out where it was and become a part of it."
"It suggests to Connel that the same imagination he uses as a reader is necessary to understand real people also, and to be intimate with them."
"Outside her breath rises in a fine mist and the snow keeps falling, like a ceaseless repetition of the same infinnitesimally small mistake."
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