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[Spoilers]
A Viagem do Elefante, mais um livro de José Saramago, mais uma história incrível.
A história baseia-se num facto histórico, como é referido pelo autor no prefácio: "a viagem de um elefante que em 1551 foi levado de lisboa a viena". E a obra é uma decrição do que acontece durante essa viagem, que é tamném uma viagem pela vida do elefante, uma viagem descrita por ações, reações ao desconhecido e ao conhecido, até se atingir o destino.
É interessante como ao longo da viagem vamos vendo as diferenças culturais, como cada povo, cada aldeia reage à passagem do elefante, salomão, como os portugueses e os austríacos se encontraram pela primeira vez e já estavam desconfiados uns dos outros antes do encontro, como no século XVI claro que havia pessoas que nunca tinham visto um elefante e como reagem. Há referências ao que se pode ter passado socialmente, politicamente e religiosamente de uma perspetiva muito interessante.
O narrador tem consciência de que está a contar algo passado. Há, como é característico em Saramago, muitas referências ao leitor, ao que se sabe fora da história atualmente e até ao processo de escrita da história em si, como justificações e respostas a perguntas que o leitor pode vir a ter (às vezes antes mesmo de as ter, ou que alguns nem teriam).
E o que nos diz o final desta obra? Salomão morreu, não se sabe de quê. Saramago referiu o seguinte "A Viagem do Elefante está muito próxima da nossa própria existência e da nossa própria identidade. O livro não teria sido escrito se a conclusão da vida do elefante não tivesse sido como foi: cortaram-lhe as patas para as usarem como recipiente de guarda-chuvas e bengalas. É uma metáfora da vida e da vida humana."
Embora tudo o que Salomão fez durante a viagem, os "milagres" como são chamados no livro, mesmo depois de tudo o que mostrou ser, foi este o seu fim.
O que fazemos em vida vai realmente influenciar o que vai acontecer connosco quando mortos?
Outra pergunta: porque é que Subhro queria regressar a Lisboa? Teve uma grande oportunidade de vida em viena depois de Salomão ter salvado a menina, e caíu nas boas graças do arquiduque.
É uma pergunta interessante. Se calhar, em viena não conseguiu sossego, Salomão ficou conhecido pelo salvamento. Se calhar viu a sua oportunidade de fazer alguma coisa diferente com a vida, algo que não interligasse ele e salomão, ser ele próprio algo que quisesse. Aliás, sabemos que mesmo dois anos depois de estar em lisboa com Salomão nem o rei de portugal sabia o seu nome. No caso do arquiduque, na primeira conversa mudou-lhe o nome e a Salomão. Subhro nunca poderia vir a ser alguém para além do cornaca em viena. Mas Salomão era especial, e estava morto. Eu não acho que Subhro conseguiria ficar ali, a ver todos os dias o que fizeram a Salomão.
Diria que é, também, uma história sobre o afeto, não só do ser humano pelo o animal, como ao contrário.
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ENGLISH
[Spoilers]
The Elephant's Journey, another book by José Saramago, another incredible story.
The story is based on a historical fact, as stated by the author in the preface: "the journey of an elephant taken from Lisbon to Vienna in 1551". And this book describes what happens while on that journey, which is also a journey into the elephant's life, described by actions, and reactions to the unknown as well as the known, until they reach their destination.
It is interesting how throughout the journey we can see the cultural differences, how each people, each village react to the passage of the elephant, salomão, how the Portuguese and the Austrian gather for the first time and how they were already untrusting of each other even before the first encounter, how there were, of course, people in the 16th century that had never seen an elephant and how they react. There are references to what could have happened socially, politically and religiously described from a very interesting perspective.
The narrator is conscious that he is telling something from the past. There are, as usual with Saramago, a lot of references to the reader, to what is known now outside of the story and even to the story's writing process, such as justifications and answers to questions that the reader may have (sometimes even before they have them, or that some would not even have).
And what does this book's ending say to us? Salomão dies, why we don't know. Saramago stated that "The Elephant's Journey is very close to our own existence and our own identity. The book would not have been written if the conclusion to the elephant's life was not as it went: they cut off his feet to use as a container for umbrellas and canes. It is a metaphor for life and for human life."
Even after everything Salomão did in the journey, the "miracles" as they are named in the book, even after all he proved to be, this was his ending.
Will what we do in life really affect what happens to us when dead?
Another question: why does Subhro want to go back to Lisbon? He had a great life opportunity in Vienna after Salomão saved the little girl, and fell into the good graces of the archduke.
It is an interesting question. Perhaps, in Vienna, he could not get a simple life, Salomão was known for the rescue. Perhaps he saw his opportunity to do something different with his life, something that would not connect him to Salomão, be something that he wanted to be. We know that even after being in court for two years with Salomão the king didn't know his name. As for the archduke, changed his name and Salomão's in their first conversation. Subhro could never be more than the elephant's caretaker in Vienna. But Salomão was special and was then dead. I don't think that Subhro could be there, watching what they did to Salomão every day.
I would say that this is also a story about not only the love of humans for animals but also in an opposite way.
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