THE FATHER

 (Scroll down for the English Version)

Este foi um dos filmes que eu fiz questão de esperar que saísse no cinema para ir ver, mesmo tendo saído em Portugal só depois dos Oscars. 

The Father é essencialmente sobre um homem de 80 anos, Anthony, que quer viver sozinho e rejeita qualquer ajuda que a filha, Anne, quer dar. O problema é que Anthony tem demência, e a filha começa também a precisar de ajuda para cuidar dele.

"A minha filha tem a tendência para se repetir. Mas sabes como é, é uma coisa da idade." - Anthony

Durante todo o filme conseguimos ver o desenvolvimento desta doença e acompanhamos a história de uma perspetiva muito interior. Há momentos em que estamos a sós com Anthony e ficamos quase tão confusos como ele, como se por momentos entrássemos na cabeça dele. O problema é que depois nós apercebemo-nos do que se passou naquele momento, nós conseguimos sair de dentro da sua mente, mas ele não consegue. 

Algo que gosto muito sobre este filme é o facto de irmos conhecendo a história de Anthony e a história da sua família quase da mesma maneira que Anthony é relembrado dela, o que acentua ambas as perspetivas de estar no lugar de Anthony e de Anne, as perspetivas de vermos tudo o que está a acontecer tanto do exterior como do interior. 

É difícil até para a audiência perceber a sequência dos acontecimentos, porque a noção do tempo é sempre através da perspetiva de Anthony, e isto é o que eu acho mais interessante sobre este filme, todas estas perspetivas diferentes e a forma como tudo foi construído. 

Toda esta sensação de confusão que ficamos durante e depois do filme deve-se muito a pormenores do cenário. Mobília e cores da casa foram mudadas progessivamente e minimamente para que a audiência se sentisse como Anthony, a perder o controlo até da sua própria casa e da maneira como a vê. Eu só mais tarde é que me apercebi que realmente haviam coisas a serem mudadas. E isto causa no espetador a sensação de perder controlo, de insegurança e de confusão, que são os objetivos de todo o filme: vermos a vida do ponto de vista de alguém com este tipo de doença.

Sem dúvida a parte mais emotiva é o final, e aqui eu fiquei com a sensação de que finalmente, e talvez inconscientemente, Anthony é capaz de se aperceber do que lhe está a acontecer, descrevendo a sua doença de uma forma muito simples e que eu nunca vou esquecer:

"Eu sinto como se estivesse a perder todas as minhas folhas. Os ramos, e o vento, e a chuva. Eu já não sei o que está a acontecer."

O argumento foi escrito por Christopher Hampton e Florian Zeller. Foi realizado também por Florian Zeller. 

TRAILER

-------------------------------------------------------------------------------------------------

ENGLISH

This was one of the movies that I waited to watch in the movie theatre, even though it was only released in Portugal after the Oscars.

The Father is essentially about an 80-year-old man, Anthony, who wants to live by himself and rejects any help that his daughter, Anne, is trying to provide him. The problem is that Anthony suffers from dementia, and his daughter starts needing help to take care of him. 

"My daughter has a tendency to repeat herself. But you know what it's like, it's an age thing." - Anthony

While watching the movie we are able to see this disease develop and we follow the story through a very interior perspective. There are moments when we are alone with Anthony and we get almost as confused as he is as if we entered his mind for a few moments. The problem is that we know what it is that is going on in that moment and we get out of his mind, but he is not able to do that. 

One thing that I really like about this movie is the fact that we get to know Anthony and his family's story almost in the same way that Anthony is remembered of it, which emphasizes both perspectives of being in Anthony's place and Anne's too, the perspectives of seeing everything from the exterior and the interior. 

It is also hard for the audience to understand the sequence of events, because we have the notion of time always from Anthony's perspective, and this is what I find so interesting about this movie, all those different perspectives and the way how everything was built. 

All this feeling of confusion that we are in during and after the movie is really related to set details. Furniture and colors were progressively and minimally changed to make the audience feel like Anthony, losing control even at his own home and the way he sees it. I only realized that these changes were made a lot later after watching the movie. And this makes the spectator feel that they are losing control, feel insecure and confused, which are the main goals of the movie: see the life of someone with this disease from their point of view. 

The ending is without question the most emotional part, and here I got the feeling that finally, and perhaps unconsciously, Anthony is capable of being aware of what's happening to him, describing his disease in a very simple way that I would never forget:

"I feel as if I'm losing all my leaves. The branches, and the wind, and the rain. I don't know what's happening anymore."

The screenplay was written by Christopher Hampton and Florian Zeller. It was directed by Florian Zeller.

TRAILER