(Scroll down for the English version)
Acho que já toda a gente sabe que Saramago é o meu escritor português favorito neste momento, por isso vamos só entrar para mais uma publicação sobre mais um dos seus livros.
Clarabóia foi escrito por Saramago ainda em máquina de escrever e não foi publicado por ele. Este é o seu primeiro livro póstumo, publicado pelos familiares.
Se me perguntarem sobre o que é o livro a resposta vai ser "não sei bem, é apenas um livro sobre a vida".
Toda a narrativa centra-se nas histórias de todas as pessoas que vivem num prédio de 2 andares, e é tão simples quanto isto. O que mais me impressionou quando acabei de ler o livro foi a forma como sinto que conheço todas as pessoas, como se durante o tempo que estive a ler sobre as suas vidas estivesse a viver dentro das suas casas.
Mas, para mim, o melhor deste livro é a forma como Saramago me fez andar a passear da cabeça de uma pessoa para a cabeça de outra de uma forma tão subtil que só se voltásse atrás é que conseguia encontrar exatamente o sítio em que essa mudança acontecia.
O significado da palavra "clarabóia" é tão simples quanto "uma janela no teto que dá vista para um quarto".
E é por isso que o título da obra é exatamente a palavra que descreve toda a experiência de ler este livro. Parace que o leitor está não só a olhar para a vida de todas as personagens através de uma clarabóia, mas a atravessá-la como se fosse o Sol e a entrar dentro das suas vidas, dos seus dilemas e dos seus amores.
E nós sabemos que a nossa casa é um local seguro para sermos nós próprios, e é por isso que ficamos com a sensação de que conhecemos realmente todas as personagens, porque estamos realmente a entrar nas suas casas, quartos, vidas e, por extensão da escrita de Saramago, nas suas mentes.
E agora que acabei este livro e penso sobre um tema geral, um tema para todas as casas, parece que cada uma das histórias assentam em diferentes tipos de amor e diferentes estados, e que no final todos têm um desenvolvimento.
As personagens mais interessantes são talvez Silvestre e Abel. Adoro as discussões que eles têm e a forma como se complementam mas são antagonistas um do outro. No fim Silvestre descobriu o verdadeiro caminho, que tudo tem de assentar no amor, e tenta impô-lo a Abel. Abel apercebe-se que tem de viver por ele, tem de descobrir o seu caminho e o sentido da sua vida ao seu ritmo.
Deixo aqui algumas das minhas frases favoritas de Abel no final:
"talvez a minha aprendizagem tenha de ser mais lenta, talvez eu tenha de receber muitas mais cicatrizes até me tornar num verdadeiro homem... Por enquanto sou aquele a quem chamaram inútil e se calou porque sabia que assim era. Mas não o serei para sempre (...) vou viver. Saio de sua casa mais seguro do que quando nela entrei. Não porque me sirva o caminho que me apontou, mas sim porque me fez pensar na necessidade de encontrar o meu. Será uma questão de tempo."
"O dia em que será possível construir sobre o amor não chegou ainda."
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
ENGLISH
I think that by now it's pretty clear that Saramago is my favourite Portuguese writer at the moment, so let's just jump right into one more post about another of his books.
Skylight was written by Saramago on the typewriter and was not published by him. This is his first posthumous book, published by his family.
If you ask me what is this book about my answer will be "I am not sure, it's just a book about life."
The whole narrative is centred around the stories of every person who lives in a 2-story building, and it is as simple as this. What impressed me the most when I finished reading the book was the feeling that I know everyone, like I was living inside their houses while I was reading about their lives.
Nonetheless, for me the best of this book is the way Saramago made me walk from one person's head to another in such a subtle way that only if I went back would I be able to find exactly where this change happened.
The meaning of the word "skylight" is as simple as "a window in the ceiling that overlooks a room".
And that is why the book's title is exactly the word that describes the whole experience of reading this book. It seems like the reader is not only looking at every character's life through a skylight but passing through it as the Sun and entering in their lives, their dilemmas, and their loves.
And we all know that our house is a safe place to be ourselves, and that is why we get the feeling of really knowing every character because we really are entering their houses, rooms, lives, and by extension of Saramago's writing their minds.
And now that I finished this book and think about a general theme, a theme for every house, it seems like every single story is about a certain type of love and its different stages, and that at the end all develop.
I would say that the most interesting characters are Silvestre and Abel. I love their arguments and the way that they complement each other but are each other's antagonists at the same time. In the end, Silvestre found out the true path, that everything has to have roots in love, and tries to impose it on Abel. Abel realizes that he has to live for himself, to discover his path and the meaning of life at his own pace.
Here I leave some of my favourite Abel's lines from the end:
"maybe my learning has to be slower, maybe I have to receive a lot more scars until becoming a real man... For now, I am the one who was called useless and who shut up because I knew that was the case. But I would not be that forever (...) I'm going to live. I leave your house safer than when I entered it. Not because the path you showed me suited me, but because it made me think about the necessity of finding my own. It will be a matter of time."
"The day when it will be possible to build on love haven't arrived yet."
Comments
Post a Comment